HOMENAGEM GEC - DANILLO MOTA

Não é tarefa fácil achar o tom de uma homenagem para alguém constituído de tantas singularidades. Poderíamos buscar uma poesia de sua preferência, uma música, uma metáfora emblemática, mas sobre Danillo Mota não havia definições óbvias e conclusas. Sem poupar sua acidez característica, quiçá esta manifestação de despedida fosse classificada por ele como “cafona” ou meramente protocolar. Assumindo, sem objeção, o “cafona”, nós, membros do Grupo de Pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias (GEC) seguimos, portanto, na tentativa de fazer um exercício coletivo de catarse, de partilhar a dor por sua partida tão precoce e a saudade da sua presença.

Danillo se fazia incógnita. Suas ambiguidades não nos permitiam acessá-lo em profundidade, embora fosse transparente em suas opiniões. Sua presença manifesta tocava a todas/os/es. Das suas roupas alvas, quaradas ao sol, suas guias, turbantes e perfumes às suas ideias contestadoras e audaciosas, Danillo nunca passou despercebido. Seu corpo, sua existência, presença e pesquisa se constituíam em ato político. Pesquisador implicado com as temáticas de investigação, o fez de maneira especialmente dedicada durante o Doutorado, onde pautou as Pedagogias das Sexualidades, tratadas com segurança e leveza nas discussões cotidianas que se constituíam dentro e fora dos ambientes acadêmicos, espaços nos quais ele se permitia também escutar e partilhar as escritas de tantos/as que atravessaram a sua existência material. Ao questionar os/as colegas mais próximos sobre o andamento das pesquisas, não deixava de lado os comentários precisos e provocadores.

Aos que tiveram o prazer de desfrutar de sua companhia, Danillo compartilhava um humor peculiar, sempre com expressões performáticas e lembradas com graça por nós. Na escrita dos pareceres para colegas do GEC, ora pontuava os textos como “rasteiros”, sem muitos rodeios, se referindo aos escritos imaturos, ainda em processo, ora com elogios motivadores, quando a escrita apresentava o aprofundamento teórico-metodológico esperado.

Danillo comentava, em tom sempre jocoso e provocador, que frequentava o espaço físico do GEC na FACED/UFBA para acertar, apenas, os pontos e vírgulas da sua tese - cabendo-nos reconhecer a sua fenomenal escrita acadêmica, com rigor e atenção especial a coesão e a coerência textual, métrica e espacialidade, fruto das vivências e formação no curso de Letras (UESC, 2009-2014). Não escapava da crítica nem mesmo o café do GEC, que não era de marcas produzidas na Chapada Diamantina.

Amante de Música Popular Brasileira, colecionava discos de vinil icônicos, com destaque para o raro disco Álibi, de Maria Bethânia (1978), que fazia questão de mostrá-lo em muitas reuniões virtuais que participou durante o período mais agudo da pandemia de COVID-19. Apaixonado pela cidade de Salvador-BA, se fazia presente nos shows e espaços culturais, sempre acompanhado com sua bolsa de couro a tiracolo, a mesma que levava para a praia da Gamboa, do Porto da Barra e os passeios de bicicleta. Dos museus às feiras populares, Danillo, como bom benjaminiano autodeclarado, adorava flanar pela capital, com olhar altivo e passo debochado como de quem não pode e não quer ser padronizado, normalizado.

Subversivo, contestador, ritualístico, sincrético, nosso flâneur baiano, cigano, de corpo magro, cabelo preto encorpado, sobrancelhas grossas que emolduravam seu olhar inquisidor, resistia aos ditames sociais construídos para a formatação dos corpos e suas dissidências.

Danillo deixa um rico legado investigativo para a área da Educação. Seus seis anos de GEC/FACED/UFBA geraram uma contribuição importante para seu grupo e sua linha de pesquisa e é marca indelével de sua trajetória na pós-graduação. Danillo nos deixa, para aprendizado e reflexão, sua vida, seu modo único de existir.

Nós sentiremos sua ausência, mas não esqueceremos sua presença. Chegou a hora de flanar por outros espaços. Bom passeio, querido Danilo!